A luz que acende o parque… e os debates
Recentemente, a iluminação do parque ecológico de Barão Geraldo — em Campinas (SP) — virou tema de controvérsia. A Prefeitura instalou um sistema de luzes no Parque Ecológico Prof. Hermógenes de Freitas Leitão Filho com a intenção de ampliar o uso noturno e valorizar o espaço de lazer. Mas especialistas em ecologia soaram o alarme: para além da estética, a luz pode causar sérios impactos à fauna local, alterando comportamentos e ciclos naturais.
Um projeto ambicioso com custo público
Segundo a administração municipal, o investimento na iluminação somou cerca de R$ 393 mil. A proposta é tornar o parque mais seguro e acessível durante o entardecer e início da noite, incentivando caminhadas e atividades ao ar livre.
O parque ocupa uma faixa importante entre a Unicamp e o bairro Cidade Universitária, e abriga a lagoa Chico Mendes — que representa aproximadamente 74% da área total — além de uma vegetação diversificada e fauna local expressiva.
Mas enquanto parte da população celebra a novidade, pesquisadores e ambientalistas questionam os efeitos e pedem transparência nos critérios adotados para a instalação.
Como a luz pode interferir nos animais
Disrupção dos ciclos naturais
A iluminação do parque ecológico causa perturbações no relógio biológico de espécies sensíveis. A luz artificial noturna pode alterar horários de forrageamento, migração, acasalamento e repouso.
Efeitos sobre insetos e polinizadores
Insetos noturnos — fundamentais na polinização — são particularmente vulneráveis. A atração pela luz pode levá-los a exaustão ou morte prematura, comprometendo processos ecológicos.
Boas intenções, más consequências?
Embora o objetivo seja promover mais segurança e usabilidade, a instalação não parece ter adotado um plano detalhado de mitigação para os impactos. Falta clareza sobre a escolha das tonalidades de luz (temperatura de cor), intensidade, horário de funcionamento e direção luminosa.
Reações de especialistas e órgãos públicos
O Ministério Público Ambiental chegou a manifestar preocupação e solicitou informações à Prefeitura sobre os estudos prévios e medidas de proteção adotadas.
Já biólogos locais manifestaram: um dos alertas é que, sem controle adequado, a luz pode provocar extinção local de espécies que não conseguem se adaptar às mudanças abruptas no ambiente noturno.
A Prefeitura afirma que foram respeitadas normas técnicas de iluminação urbana, mas não detalha qual consultoria ambiental participou do projeto.
Pontos que merecem atenção no projeto
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Temperatura de cor da iluminação — luzes mais amareladas ou de espectro limitado tendem a interferir menos na biologia animal.
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Controle eletrônico e horários — desligamento parcial ou controle automático nas madrugadas pode reduzir impactos.
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Direção e barreiras físicas — evitar vazamento de luz para áreas de vegetação densa e uso de abrigos ou telas.
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Monitoramento pós-obra — estudos de longo prazo sobre fauna após a instalação são indispensáveis.
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Participação da comunidade científica — entrosar o projeto com ecólogos e órgãos ambientais para ajustes contínuos.
A fauna local em destaque
Estima-se que o parque abriga mais de 130 espécies de aves — muitas delas migratórias ou sensíveis a mudanças no ambiente noturno. Além disso, há mamíferos, anuros (sapos, rãs) e insetos que dependem do escurecer para realizar suas atividades naturais.
Se o ambiente noturno for alterado drasticamente, essas populações podem sofrer quedas, migrarem para outras áreas ou enfrentar risco de extinção local.
Benefícios esperados — e suas ressalvas
Vantagens apontadas pela Prefeitura
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Ampliação do uso do parque no período noturno
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Maior segurança para frequentadores
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Valorização estética e urbana do espaço público
Riscos e contrapartidas
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Potencial perda de biodiversidade
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Alteração de micro-hábitats
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Impactos acumulativos se outras áreas verdes forem tratadas da mesma forma sem estudo
Exemplos e aprendizados internacionais
Em cidades com parques urbanos iluminados, estudos apontam que o uso de lâmpadas de baixíssimo brilho, luzes com filtros ou até cortinas vegetais ajudam a reduzir danos. Em alguns locais, rotações automáticas ou desligamentos parciais nos horários de menor movimentação dão conta de equilibrar uso humano e proteção animal.
Essas práticas poderiam inspirar ajustes no empreendimento de Barão Geraldo, equilibrando a iluminação do parque ecológico com a manutenção da vida selvagem.
Caminhos para uma luz responsável
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Elaborar um estudo de impacto ambiental antes da instalação
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Adotar iluminação com índices de lumens mínimos e espectro restrito
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Realizar desligamentos parciais ou completos em horários pré-estabelecidos
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Monitorar as populações de fauna periodicamente
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Ajustar o projeto conforme os dados e envolver a comunidade científica
Com essas ações, seria possível transformar a ideia de parque iluminado num projeto ecologicamente consciente.
Conclusão
A iluminação do parque ecológico em Barão Geraldo põe em evidência um dilema urbano: conciliar uso público e proteção ambiental. Embora o investimento tenha boa intenção — ampliar o lazer noturno e dar visibilidade ao espaço verde — é urgente que se façam adaptações para garantir que essa luz não apague espécies locais.
Campinas, ao abraçar esse projeto, tem a oportunidade de mostrar que é possível inovar sem agredir a natureza. Contudo, será preciso diálogo com especialistas, ajustes técnicos e compromisso com o monitoramento contínuo.
Fonte:
Wikipédia
https://g1.globo.com/