Um novo visitante cósmico capturou a atenção de cientistas e também dos teóricos da conspiração. O cometa 3I Atlas, detectado em julho e recentemente observado na órbita de Marte, tornou-se o centro de uma onda de fake news sobre o fim do mundo. Enquanto vídeos alarmistas tomam as redes sociais, especialistas reforçam: não há qualquer risco para a Terra.
O que é o cometa 3I Atlas?
O 3I Atlas foi registrado no início de outubro por duas sondas da Agência Espacial Europeia (ESA) quando passou a cerca de 30 milhões de quilômetros de Marte. Diferente da maioria dos cometas, que seguem trajetórias elípticas em torno do Sol, o 3I Atlas não pertence ao nosso sistema solar.
A letra “I” de seu nome indica justamente isso: “interestelar”. Ele é apenas o terceiro cometa interestelar já identificado pela astronomia moderna — uma descoberta rara e cientificamente valiosa.
Os cometas são compostos por gelo, poeira e material orgânico. Quando se aproximam do Sol, parte do gelo se transforma em vapor, criando a clássica cauda luminosa que tanto fascina os observadores. O 3I Atlas, por sua origem e composição, representa uma oportunidade única de estudo sobre os corpos que vagam entre as estrelas.
O nascimento das teorias conspiratórias
Assim que as primeiras imagens foram divulgadas, vídeos falsos começaram a circular em diversas plataformas, especialmente no TikTok e no X (antigo Twitter). As postagens afirmavam que o cometa estava em rota de colisão com a Terra e que governos estariam ocultando informações sobre o “fim iminente do planeta”.
Alguns desses conteúdos incluíam montagens de explosões nucleares e supostos comunicados secretos da NASA, tudo sem qualquer base científica. Outros usaram imagens geradas por inteligência artificial, simulando reportagens ou declarações do bilionário Elon Musk, para dar aparência de credibilidade aos boatos.
O episódio ganhou ainda mais força quando um astrofísico de Harvard publicou, em seu blog pessoal, observações sobre possíveis “anomalias” no comportamento do 3I Atlas. Seu texto, rapidamente descontextualizado, acabou servindo de combustível para teorias sobre uma possível nave alienígena ou sinais de catástrofe global.
A resposta da comunidade científica
A reação dos cientistas foi imediata. Pesquisadores e instituições de todo o mundo se manifestaram para corrigir as informações falsas.
A própria NASA divulgou uma nota oficial negando qualquer hipótese de ameaça, esclarecendo que o 3I Atlas segue uma trajetória segura e distante da Terra.
No Brasil, a astrofísica Mirian Castejon Molina, do Planetário do Ibirapuera, reforçou que o comportamento do corpo celeste é perfeitamente normal:
“O 3I Atlas tem todas as características de um cometa. Seu movimento, composição e aparência confirmam que ele é um objeto natural, não uma nave espacial. Não há motivo para preocupação.”
Quando o cometa estará mais próximo da Terra?
Os vídeos apocalípticos falam em 30 de outubro como a “data do fim do mundo”. Na realidade, o que acontece nesse dia é o ponto de maior aproximação do cometa em relação ao Sol — e não à Terra.
Mesmo nesse momento, ele estará a cerca de 210 milhões de quilômetros do nosso planeta. Para comparação, essa distância é maior do que a que separa a Terra do Sol (aproximadamente 150 milhões de quilômetros).
Depois disso, o 3I Atlas continuará seu caminho para fora do sistema solar. Em 19 de dezembro, ele estará ainda mais longe: cerca de 270 milhões de quilômetros da Terra.
O papel da NASA na defesa planetária
A segurança do planeta em relação a objetos espaciais é constantemente monitorada por agências como a NASA e a ESA.
A astrofísica Mirian Molina explica que o Escritório de Coordenação de Defesa Planetária da NASA rastreia, diariamente, milhares de asteroides e cometas próximos à órbita terrestre:
“Sabemos exatamente onde esses objetos estão e como se movem. Se houvesse qualquer possibilidade de impacto, seria detectada com antecedência. A Terra está segura.”
Por que o 3I Atlas é importante para a ciência
Apesar de toda a desinformação, o cometa 3I Atlas representa uma descoberta empolgante. Por ser interestelar, ele pode carregar informações sobre a formação de outros sistemas solares e ajudar a compreender como os elementos químicos se distribuem pelo espaço.
Astrônomos esperam aproveitar as observações atuais para comparar sua composição com a de outros cometas, como o 2I/Borisov, também de origem interestelar. Essa análise pode revelar pistas sobre a diversidade de materiais que compõem o universo.
Fake news espaciais: o perigo da desinformação científica
O caso do 3I Atlas ilustra um fenômeno cada vez mais comum: a criação de pânico a partir de má interpretação de dados científicos. A combinação entre o fascínio pelo espaço e o alcance das redes sociais torna o terreno fértil para teorias conspiratórias e sensacionalismo.
Segundo especialistas em comunicação científica, a solução passa por educação midiática e divulgação responsável da ciência. Fontes oficiais, como NASA, ESA e Observatórios Nacionais, devem sempre ser priorizadas na busca por informações.
O veredito final: sem riscos, mas com muito a aprender
Em resumo, o cometa 3I Atlas não representa nenhuma ameaça. Ele é apenas um mensageiro distante, vindo das profundezas do espaço, que nos oferece uma rara oportunidade de aprendizado.
Enquanto alguns enxergam sinais do apocalipse, a ciência enxerga dados valiosos sobre a origem do cosmos.
Como explica Molina:
“É um espetáculo cósmico, não um motivo de medo. O universo é vasto, e compreender seus visitantes é parte do que nos torna humanos — curiosos e fascinados pelo desconhecido.”