Novas diretrizes para intoxicação por metanol

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Foto: Matheus Oliveira/Agência Saúde-DF

Recentemente, o Ministério da Saúde enviou uma nota técnica atualizada a estados e municípios com orientações aprimoradas para o atendimento e notificação de casos de intoxicação por metanol em decorrência do consumo de bebidas adulteradas. Essa medida visa agilizar a resposta dos sistemas públicos de saúde e garantir a padronização nos procedimentos de diagnóstico, tratamento e vigilância.


Contexto e importância da atualização

A decisão de revisar os protocolos surge diante do aumento de casos suspeitos relacionados ao uso de bebidas contaminadas com metanol. A medida reforça que a confirmação de um caso não deve se basear apenas no resultado laboratorial, mas sim na combinação de três elementos essenciais: histórico de ingestão de álcool potencialmente adulterado, sintomas compatíveis e dados laboratoriais coerentes.

Além disso, para casos suspeitos, considera-se o intervalo entre 6 e 72 horas após a ingestão — especialmente se os sintomas persistirem ou piorarem nesse período.

O que muda nos critérios de confirmação

  • Casos confirmados, descartados ou em investigação agora têm definições mais claras, alinhadas à realidade clínica.

  • Os estados devem definir um fluxo laboratorial local, priorizando laboratórios toxicológicos (CIATox) ou da polícia científica.

  • Se não houver capacidade no estado, as amostras serão encaminhadas ao LACEN estadual e, em seguida, ao CIATox-Campinas.


Rede laboratorial e fluxo de diagnóstico

Cada estado deve formalizar o laboratório que realizará as análises, com preferência pelos centros da rede CIATox ou instituições forenses. Quando não houver capacidade local, os casos devem seguir para o LACEN e então ao CIATox-Campinas. Até o momento, 21 unidades federativas já definiram esse fluxo.

O Brasil conta com 32 centros de referência em toxicologia (CIATox), que apoiam diagnóstico, vigilância e orientação a casos de risco químico. Para os estados que ainda não contam com CIATox, está disponível o serviço gratuito Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001.

Para reforçar a capacidade nacional de testes, o Ministério da Saúde, em parceria com a Unicamp, ampliou a oferta para até 190 análises por dia, fortalecendo a resposta em todo o país.


Antídotos e insumos estratégicos

Para oferecer tratamento eficaz e ágil, o Brasil adquiriu 2.500 unidades do antídoto fomepizol — uma compra inédita no país. Já foram distribuídas 1.500 unidades a estados prioritários, e poderão ser enviadas a todas as unidades da federação.

O etanol farmacêutico também reforça o arsenal terapêutico. Mais de 1.400 unidades foram encaminhadas a 11 estados para uso como antídoto em intoxicações por metanol.

Alguns dos estados beneficiados inicialmente e suas quantidades incluem:

  • São Paulo: 288 unidades de fomepizol

  • Pernambuco: 480 unidades de etanol farmacêutico

  • Paraná: 360 unidades de etanol farmacêutico

O objetivo final é garantir acesso a esses insumos em todas as regiões brasileiras, mantendo um estoque estratégico federal de 1.000 ampolas de fomepizol.


Sinais clínicos e prazo de observação

Os sintomas da intoxicação por metanol podem surgir entre 6 e 72 horas depois da ingestão. Por isso, é essencial monitorar indícios iniciais e manter vigilância estreita.

Sintomas iniciais comuns

  • Sensação de embriaguez que persiste ou não corresponde à dose ingerida

  • Náuseas e vômitos

  • Dor abdominal intensa ou desconforto gástrico

  • Dor de cabeça

  • Tontura ou confusão mental

Se houver qualquer alteração visual — como visão borrada ou escurecimento — após ingestão de bebida alcoólica, procure imediatamente atendimento de urgência.


Notificação e alertas em vigilância

Casos suspeitos e confirmados devem ser notificados imediatamente ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) no âmbito estadual. Os estados, por sua vez, devem informar o CIEVS Nacional por meio do Disque-Notifica (0800-644-6645) ou via e-mail (notifica@saude.gov.br).  Mesmo assim, o registro no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) continua obrigatório para padronização e monitoramento epidemiológico.

O documento orienta ainda que, após a notificação estadual imediata, o caso seja inserido definitivamente no sistema oficial, garantindo rastreabilidade e continuidade no processo de vigilância.


Situação atual: notificações e casos confirmados

Até a data mais recente, o Brasil registrava mais de 200 notificações suspeitas de intoxicação por metanol, algumas confirmadas, muitas ainda em investigação. O estado de São Paulo concentra grande parte dos casos, sendo responsável por mais de 80% das notificações no país.

Além de São Paulo, o Paraná também registrou casos confirmados, e outros estados mantêm notificações em análise. Quanto a óbitos, já foram confirmados casos em São Paulo e há investigações em andamento em vários estados.


Desafios e perspectivas

A atualização das diretrizes representa um passo importante para fortalecer a rede de vigilância e resposta em saúde. No entanto, ainda há desafios:

  1. Capilaridade laboratorial: nem todos os estados têm infraestrutura para análise de metanol.

  2. Distribuição de insumos: garantir que fomepizol e etanol farmacêutico cheguem com rapidez a regiões distantes.

  3. Capacitação profissional: médicos, enfermeiros e técnicos precisam conhecer os novos fluxos e critérios clínicos.

  4. Consciência pública: alertar a população sobre os riscos da ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas e sobre os sintomas de intoxicação.

Para enfrentar esses desafios, o Ministério da Saúde aposta em integração entre estados, fortalecimento de laboratórios de referência e ampliação do treinamento de profissionais em emergências toxicológicas.


Conclusão

A iniciativa do governo federal de atualizar os critérios e protocolos para intoxicação por metanol é fundamental para aprimorar a resposta do SUS diante dessa emergência de saúde pública. Por meio de redes bem estruturadas, insumos estratégicos e fluxo ágil de notificação, o país estará mais preparado para detectar, tratar e controlar casos com eficácia.

Fonte:
Serviços e Informações do Brasil

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